segunda-feira, 15 de junho de 2009

... sem fazer doce é melhor...

Quando eu já tava com a chuteira pendurada no ombro, já fora de campo, na arquibancada, vendo o jogo, não é que ocorrem alguns acontecimentos que me fazem repensar e ver que lá no fundo eu sempre estive certa: ninguém ta ai pra ficar fazendo embaixadinhas sozinho não. O bom da vida é o jogo. Mas jogo limpo. Quem me conhece sabe que sou avessa a essa coisa de ‘fazeção’ - o Aurélio deve se contorcer com as invenções no nosso vocabulário. Pra quê ficar se fazendo? Sabe, fazendo doce... Pois bem, o que, afinal, me fez pensar que ainda existem pessoas puras de sentimento, prontas para abraçar o amor sem máscaras? Pra fugir da mesmice, contarei na ordem cronológica inversa.

Parte III
Era sábado de manhã, eu tava lá no interiorzão tchê, quietinha, indo ao encontro de uma amiga, quando uma senhora bem pequenininha me abordou e começou a falar comigo.
- Tu é daqui? Onde tu mora? – perguntou - Nunca te vi por aqui. .
- Sou, meus pais moram aqui – respondi – mas eu moro em Porto Alegre.
- E tens namorado?
Olhei pra ela e em cinco segundos a analisei. Era bem idosa. A pele já toda enrugada, mas nem por isso deixou a vaidade de lado. O cabelo curto pretinho, pretinho, sem um fiozinho branco aparecendo na raiz, devia ter pintado na quinta-feira, véspera do dia dos namorados. As unhas vermelhas, bem feitas, com a mesma cor nos lábios. Usava blush. A roupa merece um destaque à parte. Um casaco preto que batia na altura da coxa, uma calça legging branca e uma bota cor de rosa quase até o joelho. E uma bolsa cor de vinho. Toda faceira. Eu tava ali, com jeans surradão, uma velha bota pra dentro da calça, blusão de lã que podia ser usado pelo meu pai, encolhida de frio, cabelo preso, sem nem um batonzinho.
- Ahan – lasquei a resposta, bemmm baixinho.
- Eu também. Sabe que me associei no clubinho (grupo de terceira idade) e tenho ido muito aos bailes. A gente tem que se divertir né. Conheci um namorado lá.
- É mesmo? Isso foi agora ou faz tempo?
- Faz um tempinho. Mas agora não gosto mais dele. To gostando mesmo é do primo dele.
- E ele, gosta da senhora também?
- Sim, os dois. Mas quero o primo.
- E que idade a senhora tem?
- Setenta e poucos.
- Mas quanto?
- Setenta e poucos. Quanto tu me dá?
- Não dava nem 60 - (tem horas que uma mentirinha não faz mal né gente). E seus namorados, quantos anos têm?
Com sorrisão aberto e os olhos brilhando, ela respondeu:
- Eu estou bem né!!! – disse, alisando a roupa. - O namorado tem 60 e poucos e o primo 50. O outro bebe muito, não quero mais. E o primo quer até casar. Mas não quero não. Quero namorar só sábado e domingo. Namorar é bom, não é? Ter um companheiro, um parceiro... mas eu é que não vou ficar fazendo comida pra homem e lavando cueca!
Gente, ela não era boba nem nada. Tava com mais de 70, de olho num garotão de 50 e ainda por cima só queria curtir a parte boa da relação!
Estava chegando quase na casa da amiga e me despedi.
- Vem sempre pra cá? – perguntou.
- Não muito.
- Ahhh, mas quando vier vai lá no bailinho, tu vai gostar.
- Ahan, se der, eu apareço.
- Tu vai gostar, tenho certeza.
- Ahan, eu também tenho.

Parte II
Quarta-feira, antevéspera do dia dos namorados. Cenário: uma rua repleta de pétalas de rosas. Muitas, mas muitas mesmo. A rua estava perfumada.
- O que é isso? - perguntamos todos.
Curiosidade, quando não saciada, pode matar né. Então fomos saber o que era. Pois então: uma apaixonada, separada do seu marido, decidiu fazer uma bela surpresa para seu amado. Contratou um helicóptero e mandou soltar sacos de pétalas de rosa sobre a casa do ex.

Sei que deves estar imaginando qual a reação dele, correto? Pois eu digo. Aparentemente, pelo que contaram as testemunhas, ele não deu a mínima. Estava nos fundos da casa com um pedreiro e lá ficou. Só depois de muito tempo, depois de quase faltar combustível no helicóptero, que ele decidiu ‘verificar’ o motivo que aquele troço tava sobrevoando sua residência. Fico até imaginando a cara da criatura. De desprezo. “Gastar dinheiro com bobagem....”, deve ter pensado algo do gênero. Lá no interior o definiriam assim: “grosso que nem dedo destroncado”. Mas a ex-mulher devia conhecer o temperamento do vivente... eu já disse antes “os brutos, as vezes, também amam”. Vai ver que ele não quis demonstrar nada, mas assim que ficou sozinho correu pro telefone...

Louca pra contar a novidade que parou o bairro, a empregada da casa onde estávamos chegando foi logo dizendo:
- Achei que fosse tu quem tivesse feito isso pra fulana! – disse pro dono da casa.
- Ele é tão romântico – contou-me, toda orgulhosa.
- Mas também pensei que fosse meu véio – completou.
Então, o dono da casa não pensou duas vezes.
- Vai lá varrer tudo e traz aqui pra casa. Quando a ‘fulana’ (a esposa) chegar vou atirar as pétalas sobre ela.
Hahahaha. Era brincadeirinha né gente. Pois a primeira parte deste conto é justamente ele o personagem. Se bem que se a empregada fizesse isso, ele não ia colocar as pétalas de rosas no lixo não...

Parte I
Dias desses, conversa vai, conversa vem, esse ai de cima, o romântico, achou, mais uma vez, que era hora de eu virar parenta dele. Quer que eu seja madrinha da filha dele. A guria não é criança não. Uma baita de uma moça bonita... Acontece que ela tem um padrinho. Solteiro. E o romântico quer porque quer me casar, de novo, mas desta vez com o compadre. Toda vez que to solteira, ele vem com essa história.
- Simone, vou te apresentar o fulano.
Ai entramos no assunto de casamento. Conjecturamos sobre o tema. Até que ele soltou essa:
- Ah, eu amo a fulana.
Claro que eu já sabia disso né. Mas é raro um homem externar assim, os sentimentos. Ainda mais quando está casado há 20 anos. Com a mesma mulher!
É por isso que eu digo e repito: nem tudo está perdido neste mundo!!!!

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