terça-feira, 11 de maio de 2010

Amigas, amigas... homens, à parte


Roteiristas, escritores, poetas, conseguem expressar em sua arte o cotidiano de nossas vidas. Tudo bem, não chega a ser exatamente nosso dia-a-dia, mas quem já não se viu, em parte, naquela história que está passando na tela, ou, contada nas páginas de um livro? Quando Carol foi colocada suavemente no chão, deslizando seu corpo pelo corpo de Ricardo, ela sabia que aquela história já tinha sido contada, talvez não por apenas um escritor ou roteirista, mas dezenas.

Eles foram apresentados minutos antes do show e sem declarar nada, ficaram ali, juntos, lado a lado, assistindo ao espetáculo. Quando Ricardo quis buscar uma bebida, convidou-a pra ir junto. Carol aceitou, mas ficaram muito longe do palco.

Ah, aquela música... era o som que a fazia esquecer do mundo ao seu redor. Começou a cantar e dançar com as mãos pro alto, jogando-as de um lado a outro, na ponta dos pés, pra não perder o que acontecia no palco. Ele, percebendo que aquela música era especial, pegou-a no colo e deixou-a o mais alto possível para que ela pudesse desfrutar daquele momento. A música acabou, mas aquele momento ficaria marcado em suas vidas. Muito lentamente ele deslizou o corpo de Carol e a apoiou do chão, fazendo-a virar-se para ele. Seus olhos e suas bocas se encontraram e um longo e ardente beijo selaria uma bela história de amor. Aquelas férias jamais seriam esquecidas.

Nos dias seguintes eles não participaram da programação dos amigos, queriam desfrutar cada minuto daquele descobrimento mágico. Até que decidiram se encontrar com a turma, no final de um dia, na mesa de um bar.

- Essa é minha irmã, Paula.

Carol não queria acreditar no que o destino estava lhe aprontando. A praia era a mesma. O nome de Ricardo era o mesmo e o de sua irmã também! Não poderia haver tanta coincidência. Sua amiga, Silvia, havia lhe confidenciado as juras de amor que trocara com um Ricardo, na Praia Brava, durante um feriado prolongado. Ele, muito gentil, apresentou a ela toda a família e Paula, sua irmã, foi extremamente cordial e hospitaleira.

Praia Brava. Ricardo. Paula. Era muita coincidência.

Os demais dias alternaram momentos de pura felicidade e também de apreensão. E se Silvia descobrisse?

Ao voltar para o trabalho o olhar que Silvia lhe lançou já disse tudo. Ela sabia! E não a perdoaria. Foram inúmeras tentativas para explicar que tudo começara sem que Carol soubesse que o Ricardo de Silvia era seu mesmo Ricardo. Ele, sem saber de nada, telefonava para Carol, mandava emails, e ela resistia em atendê-lo. Até que não pode mais fugir. Ele ligou de um outro telefone.

- Está fugindo de mim? Achei que tínhamos um sentimento especial.

- Sim. Tão especial quanto foi com Silvia!

Aqueles segundos de silêncio pareciam uma eternidade.

- Como é que é? O que você sabe de Silvia?

- Sei tudo. Somos amigas. Aliás, éramos amigas.

- Olha, realmente eu e Silvia nos envolvemos. Passamos três dias maravilhosos. Mas nos despedimos com a certeza de que não nos veriamos mais.

- Ricardo, não posso. Estou me sentindo muito mal, porque ela se apaixonou por você, está fazendo planos para revê-lo e eu sempre fui a melhor amiga dela.

Durante algum tempo ele insistiu. Mas as ligações foram diminuindo, até que os emails pararam de chegar. Nesse meio tempo, Carol conseguiu se aproximar de Silvia e pediu para explicar.

- Explicar o quê? Que eu te contei que encontrei um cara pelo qual eu esperava a vida toda, que foi amor à primeira vista?? Tanto que já tinha marcado minhas férias para reencontrá-lo!!!! Explicar o quê?? Que na primeira oportunidade você vai lá, o seduz, e volta rindo de minha cara?? É isso que queres explicar?

O que Carol não sabia é que uma prima de Silvia também estava curtindo as ferias na Praia Brava e conhecia Ricardo. Contou quase todos os passos que Carol e Ricardo davam pela praia e pela redondeza.

- Silvia, eu só presumi que era o teu Ricardo quando já estava super envolvida. Já tínhamos passado muitos dias juntos e fiquei sem coragem de falar a ele. Mas quando voltei, pus fim na nossa relação.

- Eu não acredito em nada do que você diz.

Muitos dias se passaram sem que Silvia aceitasse as desculpas de Carol. Sem a amizade de Silvia, Carol decidiu aceitar o que o destino lhe reservara. Se a amiga estava irredutível, não acreditando que tudo não passara de uma infeliz coincidência, ou peça do destino, então, ao menos, ela iria curtir o que a vida estava lhe oferecendo. Numa sexta –feira fez as malas e viajou para a Praia Brava após o trabalho.

Os raios de sol da manhã seguinte pareciam dizer para Carol correr e se jogar nos braços de seu amado. Decidiu procurar Ricardo após caminhar pela beira da praia. Precisava pensar no que iria dizer a ele. Enquanto as ondas chegavam aos seus pés ela pensou que não iria planejar conversa nenhuma. Iria abraçar Ricardo e dizer a ele que estava morrendo de saudades. Que queria sim levar aquela relação adiante.
Foi até o restaurante de Paula, irmã de Ricardo, para saber onde ele estava. Paula ficou muito surpresa quando viu Carol e meio sem jeito perguntou o que ela estava fazendo ali.

- Vim ver Ricardo. Onde ele está?

- Ele viajou.

- É mesmo? Pra onde?

- Foi a Porto Alegre, procurar por Silvia. Saiu ontem a noite. Ele te esperou muito Carol, sofreu muito com tua indiferença, mas achou que vocês não teriam mais chance, pois você estava irredutível.

Sem falar nada, Carol saiu pela beira mar e se sentou naquela pedra, no canto da praia, que fora cenário de muitos momentos de felicidade.

- Oh marzão... isso é coisa que se faça, trazer e levar um grande amor, como a dança mágica de suas ondas?

Nenhum comentário:

Postar um comentário